terça-feira, junho 08, 2010

Querer o que?


Tenho um iPhone 3G. Gosto muito dele. Dezenas de funcionalidades que realmente facilitam a vida. Indispensável? Certamente não, mas não vivo mais sem ele. Assim que o comprei, a maçã mordida lança o iPhone 3GS, mais rápido, com GPS, comando de voz e um "S" a mais no nome. Mesmo assim estava satisfeito com meu aparelho, mesmo sem um "S" após o "G".


No dia 07/06/2010 Steve "Darth Vader" Jobs anuncia o iPhone 4G. Câmera com flash atrás e, na frente, uma câmera exclusiva para videoconferências; multitarefas, edição de vídeos e, principalmente, uma unidade numérica acima dos antecessores!

O iPhone "GGGG" é um ícone da indústria do consumo. Pagamos caro para não usar metade das funcionalidades do mesmo. E como gostamos de todos esses badulaques! Na realidade, acho que compramos muito mais pelo nome. Adoramos nomes que misturam palavras estrangeiras com números: XBox 360, iPhone nºG (S), Playstation 3, Nokia N "qualquer nº". Um "bom nome" faz milagres.

Voltamos para a questão do consumo desenfreado do post anterior. Talvez a falta de perspectiva, ou quem sabe a inexistência de um propósito em nossa vida? Compramos para preencher um vazio interior que não pode ser preenchido. Desejamos, compramos, desejamos mais, compramos mais.

Somos ocos, nossa essência se resume ao desejo de ter. Talvez por isso a depressão seja tão comum. Nos ensinaram que devemos ter, mas desejamos as coisas erradas. Queremos o efêmero. Não sabemos o que queremos, só temos uma certeza: queremos.

Talvez a culpa seja da gramática. Querer: verbo transitivo direto. O ato de querer é gramaticalmente transitório.

Não interessa de quem seja a culpa. Somos assim? Ficamos assim? Estamos assim? Enquanto a resposta não surge, espero, ansiosamente, a chegada do iPhone 4G para preencher esse vazio, mesmo que temporariamente.

domingo, junho 06, 2010

Samsara

Acabei de assistir um filme que me fez pensar - coisa rara nos dias de hoje - "O Solista" é uma obra emocionante e surpreendente. A surpresa fica por conta de você não esperar muita coisa do filme em seu início, mas, em quinze minutos, o em torno é esquecido e você penetra no fantástico, e louco, mundo de Nathaniel Ayers.

Mas o post não é exatamente sobre o filme, e sim uma parte dele. Na realidade um trecho de conversa onde o personagem principal afirma que "Um homem só precisa daquilo que ele pode carregar". Ok, desconsiderando o fato de que quem disse isso era louco, concordo em teoria. De fato vivemos em um mundo bem estranho. Corremos atrás de coisas sem importância, nutrimos expectativas irreais, lutamos para atingir alguns objetivos para, assim que os alcançamos, procurarmos outros ainda mais grandiosos.

Compramos demais, comemos demais, trabalhamos demais... com a idéia de que, caso façamos isso, um dia poderemos descansar e aproveitar. É loucura! A vida deveria ser simples. Nós a complicamos em demasia.

Tentei imaginar como seria a vida caso me contentasse apenas com o que posso carregar, para, logo em seguida, imaginar viver sem carregar nada. Devo admitir, a sensação foi de liberdade e paz.

Não somos felizes, temos momentos de felicidade, e é justamente a busca por aquilo que nem sequer sabemos o que é que nos tira a paz, a tranquilidade.

Somos educados desde a mais tenra idade a pensar alto, querer mais, a acreditar que a perfeição e a completude são possíveis... Pois bem, não são. O relacionamento ideal, a casa ideal, o emprego perfeito. Nada disso existe, a vida é composta de momentos e nós os deixamos passar nos "preparando para o que vier", o problema é que nunca vivemos aquilo que vem.

Também estou preso nesta roda e não vejo como sair. Gosto de planejar o futuro, gosto de consumir, sofro por problemas pequenos, antecipo o inevitável... enfim, fui bem adestrado, como você...