segunda-feira, janeiro 07, 2008

Estranheza Filosófica

Habituei-me às mais diversas reações à fatídica pergunta: O que você faz da vida? Levando-se em consideração que não estão interessados nos detalhes de minha vida pessoal – ou estão, mas têm vergonha de perguntar – presumo que queiram saber sobre minha vida profissional. Uma pergunta aparentemente inócua, que tem por objetivo “quebrar o gelo” e obter um mínimo de informação para que se possa criar um “gancho” para prolongar a conversa.
Após oferecer a resposta, notei que meus interlocutores podem ser classificados em categorias:

Situação: “Festa íntima”, isto é, um monte de gente reunida, som ambiente (invariavelmente Maria Rita), bebida e várias rodas de conversa.

(Amigo em comum)
- Fulano, este é o Eduardo (eu)
(Fulano)
- Prazer...
(Eu)
- Prazer não, satisfação, o prazer vem depois... (para descontrair)
(Fulano)
- É verdade he he he (risada constrangida), e aí? O que você faz da vida?

Pronto! Mal começou e eis que surge a pergunta!

(Eu)
- Sou professor... (com a esperada expressão de quem carrega uma monumental cruz) – para tentar encerrar a conversa por aí emendo rápido: E você?
(Fulano)
- Arquiteto. Professor de quê? (defendeu e partiu para o ataque, justamente o que eu queria evitar).
(Eu)
- Filosofia...
(Fulano)
- Sério? Nossa! Nunca conheci um; espera aí. Ei! Sicrano! Vem cá! Olha só isso! Ele é professor de Filosofia!

Este pertence à categoria “Tenho uma coisa exótica para mostrar às outras pessoas”.

(Sicrano)
- Você é professor de Filosofia mesmo?
(Eu)
- Sou...
(Sicrano)
- ... (categoria “mudo”)

Outras categorias de interlocutores:

O “curioso”:
- Mas por que você fez isso?

O “ontológico”
- Em sua opinião, o que você acha que somos enquanto seres dotados de existência-racional (!)

O “religioso”
- Ah! Então você também é ateu, não?

O “literário”
- Com certeza você já leu Paulo Coelho! As grandes perguntas da humanidade são respondidas por ele! (pois é...)

Diversas categorias poderiam ser citadas com base nas reações que já tive o (des) prazer de observar. Entretanto, o pior são os comentários assim que viro de costas.

- Nossa! Já encontrei de tudo nesta festa. Acredita que aquele careca perto da porta é um grande guru que, além de dizer ser a reencarnação de Sidarta Gautama, consegue orgasmos múltiplos através da contemplação da alcachofra?
- Isso não é nada... Está vendo aquele barrigudo tomando cerveja na boca da lata?
- Estou.
- Ele é professor de Filosofia!
- Uau... Cada coisa né?


O professor de Filosofia é visto como uma coisa estranha; ser professor tudo bem, existem pessoas com tendências masoquistas, mas de Filosofia é demais!

Com o objetivo de aproximar a Filosofia do “mundo real”, segue um vídeo do grupo humorístico inglês “Monty Python” que une o “amor pelo saber” com a “paixão nacional”.




3 comentários:

Camila disse...

É, eu sempre te achei uma figura estranha. Olha o curriculum: alcólatra, fumante, pornográfico, viciado em jogos... e como se não bastasse, PROFESSOR DE FILOSOFIA! É muito pra uma pessoa só!

Eduardo Martins disse...

Opa! fumante? culpado. Pornográfico? Em termos. De resto, só bebo quando jogo.

Anônimo disse...

kkkkkkkk muito bizarro o primeiro comentário...

mas "então vc é ateu tbm?"

huehuehheuhe

eu leio essas coisas e me lembro que antes mesmo de entrar no curso, a minha família já me olha de cara feia¬¬