A digníssima senhora Eliana Tranchesi - conhecida como "mama Daslu" na cúpula da organização mafiosa que empresta o nome à alcunha carinhosa já mencionada - recebeu a pena de noventa e quatro anos e meio por formação de quadrilha, falsidade ideológica e descaminho -importar ou exportar mercadoria sem os devidos pagamentos de impostos (ufa!).
Ouvi muita gente questionando a sentença:
- Quase 100 anos por sonegar imposto?
- Enquanto há assassinos que estão na rua em menos de 10 por "bom comportamento"!
Não nego que o argumento - a primeira vista - possui seus méritos. Entretanto (sempre há um entretanto), nem tudo que reluz é ouro (somente as torneiras dos banheiros da Daslu).
Levando-se em consideração uma pena mínima de quatro anos para o roubo de um milhão de reais de uma pessoa (aos advogados de plantão: desconsiderem "agravantes", "atenuantes", "insignificância do delito" ou qualquer outro artifício jurídico para justificar uma pena excessiva ou branda demais), agora imagine que alguém roube um milhão de reais de 640 pessoas. Não seria justo aplicar a pena mínima vezes o número de pessoas lesadas? Pois bem, o valor sonegado pela Daslu foi de 640 milhões de reais.
Claro, este é o cálculo de um leigo (como alguns amigos advogados vivem lembrando).
Vamos ver a condenação sob a lente da "justiça":
- formação de quadrilha (1 a 3 anos de prisão)
- descaminho consumado (1 a 4 anos) - cometido seis vezes, sendo que a pena pode ser dobrada por uso de meio aéreo
- descaminho tentado (1 a 4 anos) - cometido três vezes
- falsidade ideológica (1 a 5 anos) - cometido nove vezes
A soma das sentenças acima é de 108 anos. Admitindo que nem todos os delitos foram condenados com pena máxima, até que 94 anos e meio foi uma sentença razoável.
Um terceiro ponto de vista:
Ao sonegar 640 milhões a Daslu roubou quase 200 milhões de brasileiros. Podem me dizer: Ah, mas se esse dinheiro chegasse aos cofres públicos seria roubado. Admitamos que 50% do total "sumisse", ainda assim restariam 320 milhões que poderiam ser convertidos em postos de saúde, escolas ou até mesmo para o maior programa de compras de voto já feito (caso não estejam captando a mensagem, serei mais explícito: Bolsa Família).
O fato é que a "brincadeira" dos "capos tupiniquins" da Daslu custou vidas, futuros e presentes de milhares de pessoas.
Torçamos que o exemplo seja seguido, que não fique apenas nesta única condenação. Quem sabe este "surto de justiça" chegue por aqui? A "Cidade Morena" bem que precisa de um olho aberto em algumas organizações de telecomunicações paraenses...